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quem bebe
Ponto de Gräfenberg
O Ponto
de Gräfenberg, mais conhecido por Ponto G, versão suposta
metafórica para designar o local exato do prazer sexual feminino,
dentre os meus estudos e em minha concepção (além de várias
experiências práticas científicas) em quase 75% da espécie
mamífera em questão se encontra nas seguintes opções, como já é
sabido: no final da palavra Shopping, no início do uso constante do
Golden Card, dentro de um automóvel Golf, todos os automóveis da GM
ou até mesmo em um popular automóvel Gol ou um Gurgelzinho... Uma
viagem para a Grécia (de preferência acompanhada das amigas!), uma
noite de gala ou com gerentes seniores de uma multinacional, dentre
tantas outras formas variáveis de se sentir prazer fácil, trivial,
previsível e descartável. Como já se é sabido, afinal...
Já a
porcentagem restante da espécie, a mais rara de se encontrar em
disponibilidade no mercado, mostrou seu ponto G de forma mais íntegra
e com maior dificuldade em se alcançar tal prazer, já que para tal
é necessário, também, um espécime mamífero macho com tal
capacidade em lhes proporcionar belas palavras sob um céu estrelado,
um bom jazz durante um jantar em que ele cozinhou, um flerte sutil e
respeitoso em uma balada, um sorriso, um passeio à galeria de arte,
uma piada mal contada que quebre climas ruins, um cinema e uma noite
de CCC (Carinho, Cama e Conchinha).
Laz Muniz
TOC DE PASSAGEM
Tinha
um troço com os livros que, acredito, muita gente deva ter e hoje,
confesso, detesto que isso exista. Coisa estranha e metódica,
neurótica, até psicótica (adoro os exageros, não reparem!). Na
verdade, na minha concepção, todo metodismo é psicótico. Mas o
meu era algo de deixar os livros quietos, como deviam ficar:
intocáveis. Comprá-los, lê-los, absorvê-los, relê-los se
necessário e encostá-los em seu devido lugar, a estante. Essa era a
regra. E lá deviam fica para sempre, sem mexer. E se o fosse só eu
poderia fazê-lo. Retirar um livro do seu devido lugar era, para mim,
quase uma cirurgia necessária no último caso, quando nada mais se
podia fazer para salvar a situação. Exigia-se cautela e dezenas de
perguntas que predeterminariam a total importância para o qual
aquele exemplar deveria sair da estante. Era quase que um ideal
ditatorial de possessão sobre todo aquele conhecimento.
O
que era pior do que tudo isso? Claro, exemplares em ordem alfabética.
Nada de mais, facinho para encontrá-los, já que são tantos. Mas, o
que era pior: por ordem alfabética de Editora por Editora. Está
bem, já entendemos, mas tem coisa pior? Tem: por ordem de tamanho na
altura e na espessura da lombada, assim como pela profundidade que o
exemplar ocuparia na estante. Pronto, falei! Isso é a mais pura
paranóia que nem a mais organizada das bibliotecas compreenderia.
Então, você ainda espera pelo pior? Cadernos e cadernos onde se
encontravam anotados o nome de cada escritor e seus livros
correspondentes, tradutores, distribuidores, impressores,
ilustradores, programadores visuais, data de escrita, lançamento,
nacionalidade, reedições, etc. Sim... Eu tinha disso também. Até
o dia que eu dei um basta geral depois de um roubo imensurável na
minha biblioteca de quase dez mil livros e revistas e jornais e
periódicos. Doei mais um bocado para outras bibliotecas públicas,
escolares... E fiquei com alguns parcos deles que mais me
interessavam, daqueles que já li até seis vezes ou apenas uma única
vez, mas os guardei porque a capa ou as ilustrações me encantavam.
O
que não entendi, até hoje, é onde diabos se encontram mais um
desses ladrões intelectuais. Fascinante seria se existissem mais
pelo mundo! Você pode deixar um caminhão abarrotado de livros até
a tampa, aberto, em qualquer esquina, por dias, que ele jamais será
roubado. Mas isso é outra história que contarei posteriormente...
Sabe
como eu gosto de livros, hoje? Sujo, depenado, com cheiro de
manuseado e denotando a sua idade nas rugas e borras de xícaras de
café nas beiradas das páginas. Livro com cara de mapoteca, com
resquícios de perfume emprestado, com fios de cabelos longos, soltos
por suas páginas, sem dona. Com marcadores de pétalas de flores
desidratadas. Com marcas de dedo engordurado, batom, beiradas das
páginas amareladas pelo tempo ou manuseio, rasuras e anotações
descabidas e números de telefones que já não existem. Carimbos de
ex-proprietários e recadinhos de quem já virou entidade. Adoro um
livro que parece ter voltado da guerra. Orgulha-me saber que ele
lutou para ser lido por tantos em tão pouco tempo e o seu estado de
manuseio demonstra o quão bom ele é.
O
que me fascina é poder entender o que o locatário tentou entender
com aquele objeto, com aquela história. É saber que aquele livro
passou nas mãos de muita gente. Livro usado é tão bom quanto a
mulher experiente. Mas isso também é outra história...
No
meu caso e dos meus exemplares a maioria volta para casa. Por pura
pressão psicológica eu ainda consigo fazer com que retornem quando
os empresto. Antes eles não saiam da minha alçada. Hoje faço
questão que os levem e que rodem o mundo como um bom “verneano”.
Quando fico sabendo que fulano emprestou meu livro para outro sicrano
me dá um êxtase maravilhado sem noção que me faz acreditar que,
através daquele pedaço de bolo de papel que carrego, muita gente
consegue ter a mesma emoção que eu ao ler aquelas páginas. É uma
euforia bacana, como se as bochechas estivessem ardidas pelo buquê
de um bom vinho e me batesse uma embriaguês de felicidade. Alguns
chegam de volta rapidinhos, com um ou dois meses.
As
pessoas de hoje em dia demoram demais a ler livros. As redes sociais
as ensinaram a fragmentar suas ideias em algumas míseras linhas. Mas
têm outros que rodam como bandeirantes, desbravadores, piratas, naus
sem rumo e andarilhos sem tempo e espaço e quando retornam pra casa,
demoraram de um a três anos desgarrados pelo mundo e ensinando e
desaprendendo.
Pessoas
como eu são muito fáceis de agradar ao presentear e nem precisam
ter medo de se sentirem previsíveis dando livros de presente. Porque
o objeto pode ser o mesmo em sua forma, consistência, peso, cheiro e
gosto, mas jamais em toda sua existência e essência um livro será
igual ao outro. Tornam-se diferentes até mesmo a cada leitor. E
reler é sempre muito mais divertido, dependendo da literatura.
Hoje,
a minha paranóia metódica psicótica com os livros é apenas saber
que um bom livro, como objeto, está sempre de passagem.
Laz
Muniz
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