quem bebe

“SÉCULUS SECULORUM”

“Era uma noite chuvosa e tempestuosa…”
Iniciava a história nosso querido amigo Snoopy, através de seu diário de bordo, de sua aeronave…

Mas isso é outra história.

O que gostaria de dizer, mesmo, é que “Há mais coisas entre o céu e a Terra do que possa imaginar nossa vã filosofia”…

Há, mas isso também é outra história e o que eu estou querendo dizer é que passam-se anos e anos e a gente continua usando velhas frases, velhos ditados, velhas analogias…
Mas isso também é outra história. Não era nada disso o que eu gostaria de dizer!
Quanto mais penso que sei de muito descubro que outros sabem de menos e vice-versa. A história está aí para ser conhecida e para ser recriada e poucos tiram proveito de tudo isso.

Vim da geração de leitores da Enciclopédia Barsa, almanaques, datilógrafos, vinil. A máquina calculadora digital foi uma revolução! Deixar de usar carpetes nas casas e considerá-los démodé, depois de tantas décadas na onda da moda do design de interiores, também... Não, não existiam termos como design. Hoje, o advento de uma TV de plasma 200 polegadas não é de se admirar mais como foi o surgimento do Compact Disc.

Vitrinistas, escafandristas, marionetes e ventríloquos… Ficam as burcas, as fardas e vão-se as poesias em troca da tecnologia do Ctrl+c / Ctrl+v; homenagem a escritores clássicos, políticos classudos e acadêmicos da música em alegorias de samba no mês de fevereiro só viraram pretextos para disfarçar os dias do todo mundo é de todo mundo, ninguém é de ninguém. Fartos e lindos peitos e bundas em troca do pão nosso de cada dia it’s a cool e em vez de cabeças, muita grana vai rolar!

Eram reis e réis, cruzeiros e barões, URV’s e Cruzados, Cruzados Novos e Cruzeiros velhos, o real tentou fazer jus ao nome. Ficaram as palavras cruzadas, as mesmas desde os primórdios. E por falar em primórdios, os jogos de tabuleiros não deram lugar aos vídeo-games.

Ótimo! A minha mãe está melhorando a coordenação motora dela depois de um grave acidente nas mãos, jogando Counter Striker.

Nada contra nada disso que está aí. Não vou ficar fazendo manifesto a favor da poeira. Não vou nadar contra a maré e nem quero desafinar demais o coro dos contentes! Não é isso o que eu queria dizer. Sou a favor da evolução tecnológica e das novas cores do universo, dos seus olhos e da beleza estética da Jéssica Biel. Mas é que hoje um garoto me perguntou se eu o conhecia. Do nada, assim, ele me perguntou três vezes até que eu o respondesse negativamente. E antes que eu o respondesse, ele já havia pedido um “pedacinho de pão”. Fingi que não foi comigo, na minha mais pura arrogância. Mas só haviam nós dois. Quem mais poderia ser? Disse que não. Que não tinha pão. Mas disse só para mim, no meu íntimo. Fui lá dentro e busquei três pães. Entreguei a ele e ele não agradeceu e nem olhou nos meus olhos.

Foi embora.

                                                               ***

E tudo nesse estranho mundo muda. Tudo muda, tudo envelhece, apodrece, morre, renasce e você acha que eu vou ficar nadando contra a maré e fazendo discurso de ranzinza? Não… também não preciso nadar tanto assim atrás dos séculos que hão de vir.

A gente envelhece, vê a história debaixo do nariz. Usufrui ou ignora. A Laranja Mecânica continua atual. O satélite Hubble continua atual, a tecnologia automobilística evolui mais rápida do que o homem e tudo, tudo muda, tudo evolui, tudo mesmo. Mesmo que para isso eu tenha citado tão poucos exemplos… Mas tudo é tão grande e só posso dizer que tudo muda…

                                                                                       
                                                                                  …mas a fome e a miséria continuam.

Era isso o que eu queria dizer.